A Concessão Incondicional das Permissões de Privacidade no Mundo Digital

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Instalar um aplicativo como Threads ou Twitter deveria ser sinônimo de abrir mão de nossos direitos à privacidade?

Assim como milhões de usuários pelo mundo, lá fui eu, em poucos cliques a partir da minha conta logada no Instagram, criar o meu perfil no Threads, a nova rede social desenvolvida pela Meta de Mark Zuckerberg, que foi oficialmente lançada em 5 de julho para fazer frente ao Twitter de Elon Musk. Entre esses cliques de consentimento de privacidade, aqueles mesmos que a gente vai avançando inconscientemente, me vi confrontado por uma extensa lista de concessões, que abrangiam desde as já tradicionais informações pessoais, localização, câmera, microfone, contatos e armazenamento, até dados relativos à minha saúde física e financeira. Contudo, ainda assim, não hesitei em aceitá-las, pois, do contrário, ficaria de fora da festinha da nova e badalada rede social.

Vivemos numa realidade de constantes mudanças disruptivas impulsionadas por essa revolução digital que transformou a maneira como nos relacionamos com o mundo e com as pessoas à nossa volta. Em meio a esse cenário, vale refletir: até que ponto os nossos direitos à privacidade estão sendo violados pelas permissões que concedemos internet afora?

É curioso observar como, muitas vezes de maneira quase subconsciente, consentimos com a intrusão da privacidade imposta pela instalação dos aplicativos. As permissões concedidas ampliaram-se de maneira assombrosa para identificar o nosso posicionamento político, crença religiosa, orientação sexual, histórico de compras, score de crédito, condicionamento físico e tudo mais o que puderem arrancar sobre o comportamento e o perfil de cada usuário dos serviços de gigantes como o novíssimo Threads ou qualquer um dos seus correlatos como Facebook, Instagram, Twitter, Linkedin, TikTok entre tantos outros.

Essas permissões, embora concedidas sob o argumento de melhorar a experiência do usuário, representam um potencial risco à privacidade, pois permitem que os aplicativos coletem, usem ou compartilhem dados pessoais, às vezes de maneira indiscriminada. O desafio que se apresenta é quase binário: ceder ou ficar à margem de um universo digital que, cada vez mais, molda a nossa realidade. Ou seja, uma total e inflexível condicionalidade.

Nas lojas de aplicativos, é possível conferir as permissões das quais você abre mão ao usar o seu serviço favorito. Na Google Play Store, isso estará listado na seção “Sobre este jogo/aplicativo”, onde diz “Ver detalhes” sob “Permissões”. Na App Store, você pode encontrar essas informações rolando até a seção “Informações” na página do aplicativo e procurando “Privacidade do App”. Essa seção mostrará as formas como o aplicativo pode coletar dados.

No entanto, o controle das permissões é apenas uma das camadas de proteção à privacidade. É crucial a leitura e o entendimento das políticas de privacidade dos aplicativos que instalados e utilizados. Estes fundamentos explicam como as empresas lidam com os dados capturados e quais são os seus direitos e opções enquanto usuário.

O debate em torno das permissões dos aplicativos é necessário e urgente em nossa sociedade cada vez mais digital. O ato de instalar um aplicativo não deveria ser sinônimo de abrir mão de nossos direitos à privacidade. É preciso equilibrar a conveniência oferecida por essas tecnologias com a necessidade de preservar e proteger os nossos dados pessoais.

A Concessão Incondicional das Permissões de Privacidade é um fenômeno que merece a nossa atenção. As escolhas que fazemos hoje definirão o futuro da era digital. Nesse sentido, é preciso uma maior conscientização sobre os riscos e as possíveis implicações de permissões de acesso amplas e, muitas vezes, desnecessárias. Como sociedade, devemos exigir transparência e responsabilidade das empresas por trás desses aplicativos e trabalhar para criar um ambiente digital que respeite e valorize o que nos é particular.

Bonus tracks

🎞️Assisti neste fim de semana “Retorno da Lenda” na Netflix. É uma excelente história de faroeste, com um final surpreendente e empolgante. Vale muito a pena conferir.

🎸O Blur irá lançar o seu primeiro álbum em oito anos, The Ballad of Darren, no próximo dia 21. Mas já tem single disponível no Spotify. Tire as suas conclusões sobre esse novo som: https://open.spotify.com/intl-pt/album/6MmJkbn8KFRMivwRInaopa?si=L-DDWumTRi-WmgSxPP91Kw

Luiz Henrique Brito